sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

40

sou um homem de 40
malicioso
ocioso
pouco corajoso
nada ambicioso
gosto do que é gostoso
gosto do gozo
 fogoso
fogaréu no céu anil
observo as pessoas
a uma certa distância
sou solitário
observo ao longe
as vejo
nas avenidas
bares
lojas
praças
olho para cima
observo apartamentos
há casais que vivem em paz
uma paz parcial
mas é paz
enquanto minha vida é inferno
enlouquecido
tomando banho desajeitado
escrevendo poemas deitado
em minha cama esfarrapada
com lençóis sujos
escrevo poemas doentes
 como minha alimentação ( doente )
como meu escovar de dentes atrapalhado
como minha ida diária a padaria para comprar cigarros
tudo é doente e extremamente desorganizado
a única coisa concentrada que faço é ler
tenho cerca de 430 livros
principalmente literatura
mas há filosofia
antropologia
política
psicologia
sociologia
passo noites inteiras lendo e fumando
meu tabaco deliciosos
como um beijo de nicotina na boca
não trabalho
meu bondoso pai me sustenta
me aguenta
nessa vida descontrolada
que levo
e levo tudo isso
muito a sério
todo esse vômito de sentimentos
que encharca a calçada de minha casa
com lodo
e cheira
a sangue morto
O Ponto G

por ter dedos de poeta
acho com facilidade 
o riacho do prazer
o ponto G
o encontrei pela primeira vez em Joana
de olhos azulejados
e cabelos castanhos  longos
deitados sobre meu travesseiro
sob um sol laranja
o ponto se localiza na parte inicial
e superior da vagina
é carne rugosa
para atingir o orgasmo
você deve começar o acariciando
com toques lentos e circulares
com seu dedo médio
provocará a sensação de despencar de um prédio
depois toques retos e contínuos
cada vez com um pouquinho de mais força
e mais  e mai força delicada
depois alterne o toque circular e o reto
...depois puro assassinato
mata de tesão a fêmea
Joana se contorcia
uivava  miava
encolhia os dedinhos do pé
rasgava o lençol com suas unhas sem tinta
aí vem o gôzo
frenético  esquizofrenético
alvoraçada ela ficava
arranhava minha face 
depois suada
acendia um cigarro
me dava o mais demorado
beijo na boca
suspirando paixão
como uma cadela
estrangulada  
sem sono ( I ) 

leve  livre
com uma coca-cola na mão
não estar preocupado com telejornais
por que tanta noticia?
se tenho tanta preguiça
no bolso apenas saudade
das canções de Neil Young
dos vinte anos
que hoje são quarenta
e se ninguém te entende
dedique um beijo ao vento amigo
coma um bom pão feito de trigo
e se não dorme
faça um poema estridente como uma gota de colírio
já que seu olho arde
aproveite a tarde
enrolado num cobertor
com o ventilador ligado
ouvindo incessantemente
a música de Chico Buarque ou Bob Dylan
cometa um delito
chame a morena
de moça bonita
você tem direito
bate algo no lado esquerdo do peito
leve  livre
como uma borboleta
bêbada de tanta flor