terça-feira, 31 de maio de 2016

os pequenos magníficos

criança
faz
arte
o dia
inteiro
até as
lâmpadas
serem
sufocadas
adulto
não
faz
arte
é
sério
escandalosamente
sério
acorda
sério
come
sério
trabalha
sério
ama
sério
dorme
sério
muita
seriedade
numa
pessoa
e por falar
em
 o 
adulto
sempre
está
não
são
como
as
crianças
sempre
reunidas
em
gritantes
patotas
o
adulto
é
uma
anedota
sempre
ilha
assustado
com
o
oceano
que
o
cerca
não
consegue
construir
uma mera
ponte
até 
à
outra
ilha
outro
adulto
sério
mas
possibilidade
de
crucificar
essa
seriedade
basta
fazer
o
que
a
criança
faz
Arte
uma
artezinha
penetrando
seus orifícios
provocará
cócegas
pela cratera
desse vulcão
extinto
explodirá
lava
dourada
em forma de sadia
gargalhada
pois se
tornar 
adulto
é
a
pior
doença
da
história
da
humanidade
essa
seriedade
com
intervalos
marcados
de
alegria
é
o
maior
erro
da
história
da
humanidade
nada
melhor
que
ser
eterna
criança
com
nariz
escorrendo
pés
descalços
correria
a
todo
instante
diante
dos
pequenos
os
grandes
deveriam
se
curvar
e
entender
que
eles
entendem
tudo
sabem
que
a
vida
deve
ser
divertida
tola
risada
somente por
existir
infantil
cusparada
na
face
da
morte
 


para embalar seus sonhos

perfume
do
vento
a
vida
fede
aparente
contradição
versos
que
fiz
deve
ser
difícil
me
entender
mas
me
entendo
  muito 
bem
vento fedorento
vida perfumada
quando
calada
minha voz
sorri
mais
um
enigma
para
você!
tomara
que
chacoalhe
seu
sono
eu
durmo
dolorido
e
colorido
um
nilista
tropicalista
dançando
sobre
cadáveres

a grande maçã

Eva
nua
com dentes
fortes
rasgou
ao meio
vermelha
maçã
que beleza
Eva!
vamos
vamos
armar
um
bacanal
dos
diabos
caralhos
bucetas
seios
pernas
entrelaçados
grande 
suruba
grande
Eva
ainda bem
ela
sangrou
a
maçã
seguindo conselhos
da
serpente 
sábia
serpente
se não
perdêssemos
o
paraíso
o que nos restaria?
sem sorrisos
nos
corpos
murcharíamos
como
as moscas possuídas pelo
sol
um venenoso
aerosol
invadiu
as narinas 
de
Eva
aquele paraíso
era
um tédio
não era
Eva?
depois da sua
mordida
sagrada
putaria
estava
destinada
à humanidade
orgia
descabida
nas
compridas
veias 
dos 
corpos
sedentos
pelo
pecado
vamos
vamos
cometer
um
pecadinho
de
nada
uma
trepadinha
rápida
aqui
acolá
depois
diz
padre
é
se
confessar
viram?
é fácil!!!
diz 
o
padre
uma
grande
putaria
depois
umas 50
ave-marias
tudo
é
permitido
mundo
amolecido
de
tanta
sexualidade
expostas nas vitrines da
cidade
mar
de
pele
carne
ossos
se
devorando
diz
 o
padre
confesse
voltará
ao
paraíso
portanto
o bom
é
viver sem juízo
em
erótica
pornografia
graças à
boca
libidinosa
de
Eva
palmas
para
Eva!!!
nos retirou da
treva
surgiu
luz
sobre os corpos
nus

 
pedras

juntei
as
pedras
do meu
caminho
empilhei-as
sem
nenhuma
preocupação
sentei
sobre
as
pedras
lá do alto
(pois se formou uma torre de 20 metros!)
é correto
muitas
pedras
haviam
no meu
caminho
sentado
bebi
vinho
fumei
cigarros
tirei um
sarro
da
vida
lá do alto
concentrei
o olhar de fera
esfomeada
nas garotas
somente
nas garotas
jovens
belas
altivas
muito vivas
com sua
pele
cobrindo
deliciosa carne
com seus
movimentos
ondulantes
elas
com certeza
não acenderão velas
no peito
de minha lápide
nunca saberão
quem sou
 nem o quanto 
as admiro
o olhar
naquele dia
não era obsceno
sim
olhar
singelo
como de uma criança
ao degustar um caramelo
olhar
inocente
acreditem
minha gente
há coração 
por trás
da insanidade
lá do alto
sobre as
pedras
do meu caminho
silencioso
emiti um
brado
de louvor
àquelas garotas
de andar
insinuante
penetrante
tão bonitas que
os olhos
não mais
 piscavam
os olhos
amavam
aquela paisagem
de
fêmeas novas
dançando
na calçada
sentado

mesmo
adormeci
com
olhos
abertos



quarta-feira, 25 de maio de 2016

insisto

houve um
tempo
em que todo
mundo
achava meu
mundo
esquisito
insisto
era notório
ficava sabendo
através dos outros
que 
outros
diziam
que não
sabiam
quando
eu falava
sério
ou
não
hoje
ando
cabisbaixo
sei   não me
encaixo
no sorriso estridente
das pessoas ao meu redor
pior
todos se afastaram de mim
vivo
solitário
lendo romances de
500 páginas
para afastar toda
melancolia
sou
canário cantando
triste canção
sou 
memória apagada
na mente dos velhos amigos
mas
consigo
me erguer
chorar
escrever
um poema
que dedico
a tantos outros aflitos
nas
 calçadas
praças
ruas
ruelas
em todo
canto
em todo
mato
com suas picadas
nas vozes aladas
a se dirigir para o céu
na esperança de uma
recompensa
a minha cabeça
pensa
repensa
somente vomita palavras
nesse papel branco
novamente
insisto
sempre fui
esquisito
sempre fui
confuso
mudo de humor repentinamente
estou na sala
de repente
estou ausente
é uma vida lastimável
porém
amáveis são meus dedos
há muito tempo
seguram a pena
encharcam a vida
de
versos
insisto
versos
que
dedico
a
outro
irmão
aflito

irmã

ainda sua resposta
não recebi
não resisti
preciso urgentemente
de você
essa é uma súplica
em forma de poema
é uma carta
desesperada
em forma da poema
explodem vulcões do meu coração
escorre sangue por todas as partes
nas tardes
de puro fogaréu
meu céu está
tingido de escuridão
(mergulhado em depressão
as lágrimas não cessam
as lágrimas transformaram o
carpet do quarto
num charco!)
adormeço endoidecido
acordo furioso
caminho até a ponte num
andar corajoso
retorno cambaleando
estou gordo
você precisa ver
peso 103 quilos
você precisa ver
tenho um violão
(mas não faço aulas há três semanas)
o suor emana
quando fico esticado na cama
escutando
o som do ventilador
o zumbido colorido
das moscas
o rastejar entorpecido
das baratas
o que me mata é a saudade
da mãe   de você   de Joana
(sabia que a Joana morreu?)
é
foi em fevereiro
2014
aos 31 anos
antropóloga
poetisa 
editora
artista visual
doutoranda  em literatura na UFSC
morreu
ataque cardíaco
dentro do ônibus
que ia de Curitiba à Florianópolis
foi cremada
eu também quero ser cremado
como minha amada
quero que minhas tristes cinzas
encontrem as dela
juntos mergulharemos no aconchego
de um oceano azulejado
de resto
não permaneço calado
converso com as atentas paredes
na falta de um ser vivente
cada vez mais demente
mais solitário
que o mais solitário dos
dicionários
velho e empoeirado
esquecido
no canto de um armário
sigo escrevendo
poema após poema
dia após dia
poema insanos
(doidos mesmo)
autobiográficos
poemas sobre o poema
até poemas eróticos!
(uma menina   ano passado
publicou um artigo
sobre minha linguagem erótica!)
e você?
como está?
o trabalho
os filmes
os gatos
gosto
mais 
de
você
que
de
mim
sou um capim
a ser estrangulado
incomodando
um belo gramado
não espero nada
somente a morte
(como um trovão que sacode o céu)
não!!!
antes
espero ver você
nem que seja de longe
ver seu sorriso
deitar um suspiro
contra o vento
virar as costas
e
ir
embora
com
um
mar 
d'água 
nos
olhos

maníaco sexual

sigo o trecho do abandono
a goteira continua a pingar
as garrafas vazias me encaram
os jovens passam aos berros em seus
enlouquecidos carros
por que?
vai ver é porque são jovens
também já fui um deles
mas era diferente
minha loucura não era santa
me recordo de uma cena
um tanto embaçada
como um para-brisas em noite de nevoeiro
no meio
dessas trevas me vejo
sentado numa  mesa de um grande bar vazio
há um casal de amigos
estou embriagado até o pescoço
sinto tesão pela garota ao meu lado
não sei por que mas estou descalço
o chão é formado por pedrinhas doidas
roxas
  como mendigos no inverno
fico batendo os pés nesse chão
de forma que se forma uma poça de lama
(devia ter chovido ou sei lá
é uma recordação insana!)
como insanos foram aqueles tempos
como insanas eram aquelas noites
até hoje
(fumando e matando pernilongos)
mas a cena principal
não sei...
bem... sei
tinha roubado um pouco de maconha
da casa de uns amigos
retirei do bolso
a erva
enrolei um grandioso baseado
comecei a fumar tranquilamente
(como se estivesse na Holanda ou no Uruguai!)
chapado
como um anjo caído do céu
agarrei a garota!
ela tentou se esquivar
mas
eu bolinava seus peitos
enfiava a mão entre suas pernas
até que caímos na lama
ela gritou
mordi o pescoço dela
o cheiro da erva queimada
(como um incenso maligno numa catedral)
fez o garçom se aproximar
eu
(enfurecido arrancando a blusa de algodão da garota
prestes a cometer um estupro!)
o garçom
não soube o que fazer
eu
urrava como se estivesse possuído
por demônios
a garota gritava
seus peitos balançavam
já fora da blusa
minha mão já estava dentro de suas calças
foi aí
que chegou o dono do bar
e berrou:
"pare ou vou chamar a polícia!!!"
como que saindo de um sonho erótico
não entendi nada do que estava acontecendo
lentamente
retirei os dois dedos que
dentro da vagina da garota
também não entendiam nada
do que estava acontecendo
fui retirando
todo o corpo de cima
da garota em transe
(como uma indiana meditando)
levantei
peguei o baseado
acendi
soltei uma gargalhada
(típica de um psicopata!)
observei a lua
e
fui
através de lentos passos
para solitária casa
por isso
quando da minha janela
vejo esses jovens
lembro da minha juventude
percebo
que deviam ter me trancafiado
numa jaula
com 
chipanzés
gorilas
e
para aliviar a tensão
poéticas zebrinhas
eu
era um perigo para a sociedade
e
acho
que
 ainda
 sou
e
acho
que
serei
por
 toda 
a
vida


dentro

dentro
de
você
como febre depois da chuva
dentro
de
você
é suave
como manhã de domingo
dentro
de
você
parado
lá no fundo
lá no seu útero
olhos nos olhos
há gemidos chegando
mansinho
aos ouvidos
dentro
de
você
com meu corpo
de 103 quilos
pesando sobre sua
frágil carne vermelha
de 61 quilos
dentro
de
você
recomeço o movimento
lento
depois
rápido
depois
lento
tento
(como um matemático)
calcular o tempo máximo
atingir o êxtase profundo
ir eternamente até seus
desejos mais imundos
dentro
de
você
paro
novamente
lá no escuro
lá no último degrau
da escadaria para o seu
libidinoso paraíso
fico
quieto
você
pede mais
geme alto
(como se estivesse num cadafalso)
não me mexo
você arranha
sangue escorre de minha face
eu
permaneço
no mesmo
endereço
dentro
de
você
você
exausta
clamando pelo gozo
suada
nervosa
dominada
com a vagina queimando
arde esta vagina
arde por toda essa rua
até a esquina
arde por toda essa
tarde
dentro
de
você
está próximo o final
em breve lhe enviarei
um cartão postal
recomeço
não meço
as consequências
teço um verso
comprido
de puro sexo
surgem apunhaladas
você
agora calada
mordendo a língua
dentro
de
você
explode um jato de esperma
suas pernas estão erguidas
a saída
é seu orgasmo convulsivo
um sorriso embala seu sonho
sonho de mulher devorada
sonho de mulher que precisa
um pouco de luxúria
em seu abandonado coração
saio
de
você
estendo-lhe à mão
nus
vamos
ver
o
pôr
do
sol

terça-feira, 24 de maio de 2016

isso ou aquilo dão no mesmo

o verão da abertura
choviam borboletas amarelas
no Rio de Janeiro
81
Fernando Gabeira
desfila tranquilo
com sua minúscula sunga
de crochê verde
pela praia de Ipanema
84
Fafá de Belém
canta fervorosa
o hino nacional
com os pulmões
explodindo de fúria
enquanto a plateia
no meio da rua
sucumbe
diante do slogan
DIRETAS JÁ!
ainda em
84
é inaugurado
com o entusiasmo 
de um cavalo
em canção agalopada
Circo Voador
seria
o palco da febril cultura
daquele tempo
85
janeiro
Rock in Rio
fez o Brasil
esquecer que era
o país do samba
essa música
seria o refrão
da juventude rebelde
por anos
foi um golpe de navalha
na cabeça
dos defensores dos
bons costumes
Ozzy Osbourne
arrancou a cabeça
de um morcego!!!
o vermelho
escorria de seus lábios
(lembro muito bem)
85
março
o arauto da democracia
Tancredo Neves
iria assumir a presidência
dia
15
nesse dia
ele abriu seus pequenos e velhos
olhos
viu Deus ou o Diabo
e fechou-os
novamente
assim
permaneceram lacrados
até sua morte em
meados de abril
88
é promulgada
a nova constituição
empolgação
diante
de uma nova era
que se abria
como cortinas cansadas
arrastadas para os cantos
deixando um inédito vento
entrar
agora
cá estamos
quase
30
anos
depois
a mesma
batalha pelo
feijão com arroz
a mesma
frustração diante
de uma existência
não compreendida pela
ciência
ah!
a maldita ciência
explica   explica
e cada vez mais
desencanta
e ninguém mais
canta
ninguém mais
sorri
ninguém mais
tem a ousadia
de chorar ao
ver a tristeza 
dançar
a mesma coisa de sempre
depois de
Gabeira
Fafá
Circo Voador
Rock in Rio
Tancredo Neves
Constituição
será que não trocamos
a ditadura de um homem só
pela
ditadura da maioria?
será que os bêbados   loucos   miseráveis   prostituas
perceberam alguma mudança?
os dentes das crianças
ainda brilham como antes
os meus
não
estão amarelos
e
podres
de tanta nicotina
vivenciei essa farsa
encenada no tablado
não elogio a tirania
tampouco
a democracia
tudo blá  blá  blá
de intelectualóide
sou poeta
e
debilóide
mero
observador
com visão
delirante
plena
de
amor



morreu na casca

não mais
conquistar
a fêmea
decidi
(o que iria fazer depois da conquista?)
sem mar
à vista
retorno
ao local de origem
quarto da
solidão perpétua
é que
pensei   pensei
repensei
após inflamar de
fúria uterina
aquela fêmea
menina
de meros vinte anos
o que restaria?
contorcidos corpos
cama
cigarros
conversa
(mas quando converso
já percebi
mastigo o outro
converso comigo mesmo)
o poeta sempre está sozinho
até achei aquela
menina
interessante
porém
somente
despejaria nela
a sujeira
escondida debaixo das
unhas
ela não seria sequer uma
testemunha
a deixaria falar
com sua boca deliciosa
mas
como sempre
falaria demais
como um pregador entorpecido de vinho
todos os meus relacionamentos amorosos
foram catastróficos
como urina esverdeada e quente
de sapos aborrecidos
subindo lentamente
até os
dentes
prefiro comprar o amor
de uma prostitua
com saltos vermelho agulha
não mais
aquela menina
sucumbiria com tanto esperma
naufragando em sua garganta
nada mais
a fazer
cigarros
e
conversa vazia
(como uma bexiga morta!)
não seria
elegante de minha parte
trazê-la
ao meu mundo fétido
ela morreria na flor da idade
segurando
uma
rosa
pálida
nas mãos
ela
tão cálida
não merece
erguer a saia
para
atravessar
meu
inferno


poema dedicado ao tigre

esse
filho da puta
tigre
sobre os
ombros
escombros
serei
se
deixá-lo
avançar
me enfurecendo 
no lar
(que nada se parece com um lar!)
parece
com um
mal estar
sem
sonrisal
por
perto
é
minha vida
a ferver
com o
filho da puta
tigre
rasgando a pele
com suas
garras de
alumínio
puro
extermínio
do
ser
mas
vontade de força
nas
veias
teias
a capturar o
filho da puta
nessa tarde
esplendorosa
de
chuva
tenebrosa
ociosa
desliza
a
palavra
manchando
papel
nada de
céu
ou
inferno
sou
intermédio
pairo
entre
as
nuvens
e
a
terra
flutuo
o
filho da puta
tigre
desmorona
digo-lhe adeus
com
olhos perversos
rabisco novo
verso
de
triunfo
sem
assunto
sem
significado
alado

segunda-feira, 23 de maio de 2016

a batalha

engoli
o
sonífero
rivotril
20 mg
há quatro horas atrás
agora
as pálpebras
pesam
cinco toneladas
elas teimam
em se fechar
teimo em mantê-las
acesas
mas
quase nada vejo
escrevo nas trevas
como Ray Charles
tocava piano
com seus
olhos mortos
os meus
bicados por uma ave de rapina
estão extremamente feridos
gotas vermelhas
escorrem deles
e os
vermes espreitam
também não sei
o que escrevo
esse poema
sinto
devo
fazê-lo
custe o que custar
estou
com um cigarro aceso
próximo da morte
queimando os dedos
devo
fazê-lo
gosto de palavras
dançando na cabeça
e não as
guardo na gaveta
envio 
à página
como um direto
de um boxeador intrépido
gosto de assistir
lutas de boxe
elas me ensinam muito
sobre poesia
o golpe perfeito
o verso majestoso
um cruzado
um uper
nada de clinch
nada de encurvar-se
pensando
um fluxo de pancadas violentas
no papel
devo 
fazê-lo
é o atrito entre os ossos
que obriga o nascimento
dos versos
derramam veludo entre as vértebras
assim
cessa o rangido
esboço sorriso
deito a face sobre meu
próprio ombro amigo
com as
pálpebras teimosas
como cortinas de um palco
após o fim do espetáculo
com o
rivotril
essa droga
indutora de sono
a derrubo no último assalto
ela chora
indefesa
acariciando a lona
com suas lágrimas
devo
fazê-lo
fiz
e
ponto
final
aos que ninguém conhece

os  melhores
seres
permanecem
ocultos
são
calmos
silenciosos
ociosos
os melhores
seres
fodendo
estrelas
nas
sarjetas
dos
séculos
elaboram
no 
máximo
cinco
pensamentos
em 
toda
sua
longa
agradável
discreta
vida
esses
pensamentos
explodirão
nas bocas
dos
budas
cristos
sócrates
rimbauds
nietsches
garcías lorcas
célines
vinícius
bukowskis
genets
e
outros imperadores da palavra
esses
serão
conhecidos
alguns
depois
da morte
mas serão
porém
os melhores
seres
não
somente
lançam
um assobio
colorido
rasgando em fatias
o
universo
aqueles
que 
possuem
delicadas
orelhas
quase
transparentes
de 
tão
belas
(é imprescindível haver vestígios
de tropeços nessas orelhas)
quem as tem
escuta
a
velha cantiga
desconhecida
traduz
esses hieroglíficos
escreve
ou
fala
mas
os melhores
seres
combustível
desse
fogaréu
insano
se retiram
alegres
para suas
cavernas
solitários
e
cheios de
amor
em sua
volta
os melhores
seres
morrem
tranquilos
desconhecidos
(jamais alguém saberá
quem foram esses caras!)
os melhores
seres
fazem parte
do
vento
e
o
vento
se
perde
em
seu
próprio
movimento
a noite azul

um
blues
para você
sua cadela
que adormece
com
sorriso
se
esparramando
pelos lábios
com
os
seios
úmidos
de
esperma
com
cabelo
cansado
de
tanto
balanço
movimento
saudável
do seu
sexo
nada frágil
um
blues
em
sua
homenagem
enquanto
sonha
o
sonho
do
esquecimento
fui
apenas
mais
um
mais
um
pau
a
devastar
sua
floresta
repleta
de
montanhas
em
chamas
você
não chama
meu 
nome
enquanto
dorme
com
a
boca
aberta
boca
que
arranhou
peito
com
seus 
dentes
malignos
um
blues
uma noite azul
de tristeza
me
encobre
sua
cadela
a primeira
gota
amarela
do sol
a invadir
seu sono
e
você
partirá
sem remorso
deixando meus
ossos
apaixonados
flutuando
no lago
do
desassossego
bem cedo
você
sua
cadela
irá
sabe-se lá
aonde
mas irá
deixa
pau
em
carne viva
e
sua
buceta
com
vestígios
de
saliva
lançará
um 
olhar
irônico
para o
quarto
das
paredes
solitárias
um
blues
canto
enquanto
de
olhos
fechados
você 
está
quando
abrir
fecharei
os
meus

perigo

com a poesia
você consegue
enxergar
anões de circo
embriagados
na corda bamba
selvageria silvestre
na cópula
desenfreada da primavera
a morte dentro
dos crânios
nos infelizes
extratos bancários
a caixa do supermercado
lançando olhares libidinosos
a todo homem que passa
o canto alegre
dos artistas
ao chafurdar na lama
para florescer
sangue novo
em seus corpos
velhos
a putaria correndo solta
homens enfiando
seus paus estragados
nas bucetas largas
sobre latas azuis
de lixo
gosmento
estudantes estridentes
em protestos
(provavelmente não sabem contra
o que estão protestando)
é o protesto
pelo
protesto
inebriados pelos
manifestos
de revoluções antigas
falidas
na própria casca
delírios em Paris
todos os deslocados 
do mundo
vão a  Paris
Paris
é uma metáfora
é o lugar
onde os loucos
urinam
nas cabeças dos cisnes
do rio Sena
com a poesia
você consegue
enxergar
aquilo que os
cegos
do 
mundo
não veem
mas
é arte
exige ousadia
ir ao extremo
saltar fora do planeta
cuspir mel na 
teta
delicada de uma puta
não!
façam o que quiserem
porém
nunca
leiam
ou
escrevam
poesia
se houver
gritaria
não digam
que
não
avisei

quinta-feira, 19 de maio de 2016

arte

a traça
precisa do tecido
eu
ainda vivo
(após umas dez tentativas de suicídio)
preciso
da
palavra
não há nada
mais fascinante
vê-la cuspida
na página
vê-la colorida
dançando por todo o corpo
como uma bailarina nua
é o que há!
alguém
que não entende de arte
dirá:
isso é inútil
direi:
perfeita resposta
até parece que entende de arte
agradável
é a atividade
sem utilidade
mera atitude tola
como o andar
das formigas
em fileiras
sem saber
o porque
daquilo
carregando
quilos 
de folhas nas costas
o poeta
escreve
sem saber
porque
sente
sabor
sangrento
ao cometer esse ato
despretencioso
ocioso 
escreve
poemas
inúteis
quanto
mais
inúteis
mais
belos
mais
alegre
ele
fica
como as formigas estúpidas
a cada passo
mais
sorridentes
ficam
obdecem
ao chamado
da natureza
o poeta
por seu lado
obdece
à voz
que ele
mesmo inventou
invenção 
de
palavras
ardentes
a
queimar
olhos
de quem
ou
orelhas 
de quem
ouve
tudo inútil
como tudo na vida
acordar
comer
trabalhar
amar
morrer
tudo
é que hoje
todos esqueceram
da inutilidade total
(sua beleza!)
somente lembram
da inutilidade do artista
não faz mal
eles que leiam
suas revistas
sobre celebridades
engulam
suas pílulas
para sonhar
permaneço
precisando
da palavra
ela pisca
em vermelho e azul.
não insista
meu caminho é outro
é para lugar nenhum

com a insanidade nos dedos teci esse poema

loucura
dança
criança
endiabrada
a
chicotear os olhos
se não faço
enlouqueço
de vez
se não faço
o câncer
corrói
ossos
destroços
serei
se não faço
o que faço?
ora
é do poema
que falo
ele empurra
minha vida
ladeira abaixo
talvez leve
à fogueira
talvez leve 
ao repouso
ah!
deitar por uma semana
numa toalha florida
sobre
um gramado poético
piquenique
adomingado
sob
o sol das duas
primavera
frutas
mel
pão
e
uma bela menina
vestido azul
grandes olhos
grande boca
grande demência é a minha!
(já não sei o que escrevo!)
sei que devo
seguir em frente
como uma tropa de choque
esmurrando estudantes
se não faço
me perco
se faço
me encontro
e
satisfeito
com o suor deslizando
sobre o peito
(em pleno inverno!)
agradeço ao público
fecham-se as cortinas
antes
digo adeus à menina
do piquenique! 
fecham-se as pálpebras
talvez por uma semana!
desmaio
no colchão
aos pedaços
sonho
sou poeta
escrevendo
sobre
quem
sou
vendo
palavras
morrendo
felizes 
diante
da
morte


fly by night

escuridão
através da janela
asas
até mais
amor
um voo sobre a noite
do alto
vejo
pequenos carros
deles saem
pequenos homens
entram
prostíbulo
de portas
rasgadas
amor
você
tinha que ver!
é divertido
aqui do alto
navegando
entre
nuvens anêmicas
e o
céu preto
vejo
pequenos casais
nas sacadas
pequenos prédios
podem estar
em silêncio
ou conversando
ou sussurrando
palavras meigas
parecem viver
momentos de paz
amor
nós precisamos
viver isso!
nas profundezas
andarilhos
parecem perdidos
pequenos seres
entrando e saindo
pequenas tavernas
a boemia
solitária
misto de
alegria
tristeza
apatia
diversão
amor
volto logo
assista um filme
daqueles do Tarantino
que você
tanto gosta
faça pipoca
enquanto
voo
mais um pouco
é divertido 
aqui do alto
amor
tudo é tão pequeno
até o andar dos bêbados
ziguezagueando
na calçada
das
pedras tristes
é realmente divertido
amor
esse voo
sem
sentido