sábado, 17 de dezembro de 2016

uma alvorada infeliz e contente

nessa
manhã
um
balde
de
vômito
transbordando
ferindo
o
tapete
imundo
nessa
manhã
um
jovem
cavalheiro
preparando
dejejum
para
entregar
na
cama
de
uma
jovem
dama
toda
nua
escondida
pelo
lençol
branco
colorido
por
líquido
seminal
nessa
manhã
a
corroíra
iniciou
seu
canto
matinal
como
sempre
antes
de
todos
os
pássaros
que
habitam
o
vale
ela
é
uma
solista
canta
solitária
ainda
na
noite
preta
e
mesmo
que
berre
ninguém
a
escuta
que
a
cidade
dorme
com
as
cabeças
mergulhadas
em
seus
baldes
repletos
de
vômito
encobertas
por
lençol
brilhante
permanecem
as
jovens
damas
esperando
seus
amantes
esquálidos
nessa
manhã
os
livros
de
minha
estante
me
fitam
tristes
pois
não
os
leio
mais
que
nada
me
dizem
palavras
nunca
disseram
NADA
nessa
manhã
um
velho
catador
de
papelão
ou
plástico
ou
latinhas
de
alumínio
ele
carrega
com
esforço
tamanho
que
sorri
enquanto
traga
seu
cigarro
de
palha
e
olha
sua
mulher
negra
bebendo
no
gargalo
seu
líquido
entorpecente
mera
fábrica
de
sonhos
e
eles
seguem
BR
afora
rumo
à
ponte
onde
nessa
manhã
um
suicida
indeciso
mira
o
reflexo
do
Iguaçu
dourado
nesse
amanhecer
fácil
porém
ele
acha
tudo
difícil
mas
a
contradição
em
seu
corpo
cambaleante
o
faz
hesitar 
nessa
manhã
famílias
gordas
fazem
piqueniques
nas
margens
do
rio
se
deliciando
com
o
out-door
nublado
e
os
peixes
alvoroçados
pulam
boquiabertos
talvez
por
fome
talvez
pela
possibilidade
do
canto
talvez
por
medo
e
eles
pulam
do
leito
deslumbram
seus
segundos
de
festa
no
voo
miraculoso
e
afundam
novamente
na
água
lodosa
de
nosso
Iguaçu
que
como
sempre
escorre
montanha
abaixo
seu
destino
é
o
mar
onde
nessa
manhã
pescadores
dispostos
depois
de
foderem
tranquilos
suas
pequenas
lançam
suas
redes
carnívoras
na
captura
de
tainhas
ou
quem
sabe
sardinhas
ou
quem
sabe
latas
cheias
de
maconha
que
farão
sua
alegria
durante
todo
dia
ou
por
todo
mês
ou
por
toda
uma
década
e
nessa
manhã
um
tanto
fria
um
tanto
encabulada
um
tanto
calada
meu
brado
se
torna
mais
alto
pois
falo
baixo
sobre
a
triste
piada
de
ainda
existir
é
alegre
também
essa
piada
o
calor
dos
dentes
se
manifesta
e
o
cigarro
entre
os
dedos
não
se
aquieta
a
música
grita
baixinho
não
irrita
aqueles
que
dormem
abençoados
nessa
manhã
tão
linda
enquanto
o
catador
sua
a
negra
embriagada
canta
o
suicida
reflete
as
famílias
regurgitam
o
banquete
e
a
jovem
dama
degusta
seu
salmão
defumado
enquanto
o
cavalheiro
anfetaminado
apaixonado
lambe
os
pés
gelados
de
sua
nobre
PUTA
   
 
   

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

o que nos restaria sem nossas canções românticas?

o que nos restaria sem nossas canções românticas?

acordei
cantando
agora
demônio
da
 meia-noite
me
faz
lacrimejar
soluçar
e
deixo
que
faça
minha
vida
é
assim
 mesmo
um
amanhecer
sorridente
depois
crepúsculo
a
encher
de
sangue
e
dor
as
pálidas
mãos
GOSTO DISSO
é
meia-noite
e
um
demônio
afasta-se
a
brasa
do
cigarro
brilha
em
vermelho
na
escuridão
da
cela
ouço
uma
tola
canção
de
amor
iguais
a
milhares
de
outras
todas
tolas
e
imprescindíveis
ouço
o
demônio
assobiar
próximo
ao
portão
GOSTO DISSO
essa
maneira
de
viver
estúpida
e
agradável
que
não
inventamos
herdamos
e
afirmamos
em
celas
escuras
e
giro
o
cigarro
com
fúria
a
brasa
transforma-se
num
anel
em
chamas
GOSTO DISSO
daqui
à
6
horas
novo
amanhecer
talvez
nem
desmaie
talvez
permaneça
ouvindo
essas
canções
imbecis
e
indispensáveis
a
escapulir
das
gargantas
dessas
fêmeas
sentimentais
cantarolando
o
que
não
podemos
esquecer
se
esquecermos
não
surgirão
nossas
queridas
doloridas
paixões
nosso
mundo
desaba!
sem
essas
idiotas
e
necessárias
canções
de
amor
o
cigarro
morre
solitário
no
quarto
escuro
GOSTO DISSO
o
planeta
inteiro
cortejando
o
abismo
festivos
em
suas
orgias
cabisbaixos
nos
seus
funerais
sonhando
e
planejando
mais
sonhos
enquanto
gargalho
nas
suas
faces
porque
GOSTO DISSO
mas
não
participo
de
forma
direta
dessa
embriaguez
coletiva
esse
banquete
magrelo
vago
entre
todos
até
cumprimento
até
abraço
até
mordo
o
pescoço
e
enfio
a
língua
nas
vaginas
de
universitárias
meigas
prostitutas
amargas
mas
não
compartilho
o
pão
oferecido
nessa
ceia
até
engulo
uns
nacos
é
puro
disfarce
faz
parte
do
meu
show
fora
é
tudo
farsa
minha
verdade
está
nessa
escrita
tão
ridícula
(mal
vejo
o
que
escrevo
na
cela
banhada
pela
tímida
lua)
ouvindo
mais
uma
debilóide
desesperada
canção
de
amor
brincando
com
a
brasa
formando
círculos
de
fogo
em
noite
quente
de
agosto
está
chegando
a
primavera
putaria
da
natureza
recomeça
a
minha
é
possível
que
continue
no
circo
que
precisa
de
um
palhaço
como
eu
senão
para
quem
eles
irão
apontar
seus
dedos
acusatórios?
GOSTO DISSO
fora
um
grande
ator
aqui
uma
MERDA
de
escritor
e
o
calor
cresce
vou
me
despir
e
me
masturbar
lentamente
ouvindo
mais
uma
canção
de
amor
GOSTO DISSO