quinta-feira, 17 de agosto de 2017

uma cena vespertina

o
limão
apodrece
a
cadela
lambe
doida
pata
limpa
o
cigarro
aceso
entre
os
dentes

eu
galopando
sobre
a
página
com
minhas
furiosas
patas
brancas

patas
de
menino
do
interior
 com
garras
metálicas
que
trucidam
teu
dorso
e
o
galope
continua
então
me
invade
o
som
mudo
da
rua

olho
para
ela
observo
sua
curvatura
sua
sinuosidade
sua
suavidade
sua
serenidade
enquanto
limpa
o
gramado
ela
cantarola
baixinho
e
rola
mais
galope
quando
a
vizinha
de
olhos
demoníacos
arremessa
bituca
fervorosa
sobre
uma
de
nossas
rosas

"que mulher horrorosa!!!"
diz Simone
e
pega
o
telefone
chama
seu
bando
cata
a
garrafa
de
cana
cata
um
lenço
vermelho
que
enrola
em
seu
pescoço
preto
e
eu
vejo
formigas
avançarem
silenciosas
em
direção
ao
corpo
morto
de
um
limão

e
a
cadela
se
delicia
com
toda
essa
podridão
eu
ergo
mãos
ao
céu
e
o
galope
morre
feliz
apenas
por
ter
galopado
uma
viagem
do
útero
à
cova
eis
uma
tola
definição
da
vida
enquanto
divago
 cresce
a
guerra
das
mulheres
sirenes
explosões
gritos
correria
na
esquina
sol
das
4
e
o
galope
não
é
que
renasceu?

exatamente
quando
Simone
arremessa
um
rastel
que
desaba
nervoso
no
meu
ocioso?
a
dor
incendeia
ainda
mais
a
tarde
morna
coisas
do
ofício
coisas
de
Simone
coisas
às
vezes
escondias
debaixo
do
tapete
como
a
sujeira
debaixo
das
unhas
testemunhas
desse
crime
perfeito
e
o
galope
finalmente
morre
enquanto
ouço
ao
longe
um
gemido
de
loba
esfaqueada
no
Ártico
acontece...
e
assim
o
dia
se
tece

Nenhum comentário:

Postar um comentário